terça-feira, 11 de outubro de 2011

James e as antigas habilidades do Homem

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Outro dia, passei por uma cabana com teto de palha no campo. Ela era incrível. Não faço a mínima de como esse processo acontece, mas sei que envolve criar um teto inteiro, e que seja à prova d'água, com nada mais do que um bocado de galhos velhos.


Séculos atrás, acho que deviam existir centenas, se não milhares, de pessoas que sabiam a arte do "thatching", por isso que existe o sobrenome "Thatcher". Hoje em dia, devem existir apenas um punhado deles.



Claro, existem apenas um punhado de casas com teto de palha em 2011, e faz sentido. Minha casa tem telhas de verdade no teto, e para ser honesto, não queria ir para a cama debaixo de uma fogueira construída pelo próprio Baden-Powell. Ainda assim, enquanto a cabana com teto de palha sobreviver, haverão pessoas que podem consertar seu teto. A habilidade se tornará altamente especializada, mas duvido que vá morrer.


Tem muita gente preocupada com este tipo de coisa. Outro dia, ouvi alguns campanólogos no rádio reclamando que a arte de tocar o sino logo desapareceria, porque nenhum jovem estava interessado nisso. Realmente duvido, porque sempre haverão alguns "medievalistas" atraídos pelo risco de virarem um passatempo de uma manhã de Domingo, e enquanto eles existirem, sinos serão tocados. Mas vamos dizer que absolutamente nenhum jovem desenvolva um interesse por tocar sinos. Em 50 anos, a arte poderia realmente desaparecer. Isso é uma coisa terrível, não é? Não exatamente. Ela só desaparecerá se ninguém se interessar, e se ninguém estiver interessado em tocar sinos, ninguém ligará se ela desaparecer.


Estou supondo que, hoje em dia, ninguém saiba como era o "bear-baiting" ou como decapitar alguém com um chuço, e talvez alguém lamentou o declínio desses ofícios tradicionais no programa Today do século XVIII, mas isso tem muita pouca importância hoje.


Quando era um garoto, eu podia operar o mimeógrafo da escola, ou "máquina Ditto". Se não souber o que é isto, é uma forma primitiva de fotocopiadora que reproduzia um documento, a partir de um tambor, usando tintas especiais dissolvidas em álcool metilado.


Aposto que ninguém da geração abaixo da minha consegue operar um mimeógrafo. Ótimo. Elas eram uma porcaria, e o álcool metilado deixavam todas as crianças um pouco chapadas. Então, não importa se a antiga arte de operar a Ditto tenha morrido, porque agora temos a multifuncional Hewlett-Packard C4200, e aposto que ninguém em 1973 saberia operá-la.


Outras artes que pereceram mas que não sentimos falta incluem estucagem, curar a loucura com sanguessugas, aprender o código de cores dos transistores, tocar o realejo, ajustar um rádio de galena, escavar canais e esculpir gárgulas à mão para catedrais novas. Elas foram amplamentes esquecidas porque não precisamos delas.


Então, será que importa - e vivem me dizendo que sim - que ninguém consegue consertar seu próprio carro hoje em dia? Há 50 anos, qualquer homem que se preze sabia como ajustar o relé de um Austin A35 blá-blá-blá e retificar as válvulas blá-blá-blá ajuste do ponto-morto do carburador blá-blá-blá graxeira.


Mas estou ficando um pouco entediado com velhacos dizendo coisas como: "Bem, na minha época, quando o carro quebrava, sabia como consertá-lo sozinho". O que eles esquecem é que, na época deles, o carro quebrava a cada 15 minutos.


O fato de ninguém mais conseguir fazer este tipo de coisa é uma ótima notícia, porque isso mostra como o carro ficou muito melhor. As pessoas não passavam tanto tempo debaixo do capô para se alto-aperfeiçoarem. Elas faziam isso porque seus carros eram porcarias. Agora eles são melhores, e podemos nos afastar da miséria da tampa do distribuidor.


Olha, eu gosto de mexer em coisas antigas e tentar consertá-las. Acho isso cativante, e acho que é bom para a alma. Mas sou um pervertido. Há outros pervertidos o bastante para manter algumas coisas velhas especiais em ordem, mas o resto de vocês não precisam se preocupar. O que antes era parte do fardo da consciência humana, agora é apenas um hobby para quem o quiser.


Muitas das velhas habilidades automotivas desapareceram na minha vida com os carros, mas habilidades novas e mais relevantes surgiram para substituí-las, como configurar os assentos de uma minivan ou instalar um som possante.


E vou dizer o que é mais incrível que criar um teto de palha. Na semana passada, conheci um homem que podia fazer o GPS de um Maserati funcionar.


Fonte: Top Gear Magazine (Outubro de 2011)
Tradução: John Flaherty

Toda Terça-Feira, traremos artigos escritos por James May, falando sobre vários tópicos, quase todos sobre carros. Fiquem ligados.

11 comentários:

  1. Me veio uma duvida agora: Será que os carros estão mesmo mais resistentes e os donos mal acostumados, que não sabem nem onde fica a vareta do óleo e por isso estão quebrando? Ou será que os carros estão sendo tão mal fabricados, quase descartáveis que os problemas já não são mais tão simples a ponto do dono não conseguir resolver?

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  2. Antes de tudo, eu adorava o cheiro que ficava do mimeógrafo ^-^ Talvez seja o único...

    Os carros atualmente demoram uma eternidade pra quebrar e necessitam de pessoal cada vez mais especializado, requerendo a real engenharia que foi empregada pra projetar também na manutenção.
    Muita gente fala que os Chevettes e Fuscas tinham 'ótima manutenção', esquecendo que a 'manutenção' era feita por um mecânico desdentado com uma faca, fita isolante e dois metros de arame recozido.

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  3. u é ??? eu tinah comentado isso e ñ apareceu (o.O) tenso

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  4. Na minha opinião, essa regra só se aplica aos carros de luxo. O resto, continua a mesma porcaria de sempre. Tenho relatos de quem já trabalhou 7 anos com ford, passou por vw, coreanas e agora está na chery. Essa ultima, depois de alguns meses é comum ver peças plasticas de acabamento do interior completamente soltas a ponto de serem rebitas na concessionaria para que fiquem no lugar.

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  5. Vale lembrar o kit fusca, necessário à todos que tiverem um: Um pedaço de arame, um canivete, uma fita isolante, um chiclete e uma lixa pro platinado.

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  6. Muito verdade isso, um amigo meu ainda tem um Monza 89 no qual ele sempre tá mexendo, e ele aprendeu tudo "no olho" praticamente!

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  7. Lembrei do Hammond "perdendo" pro fusca agora hahaha

    Não fazia ideia de que o design era derivado da Porsche até ver aquele episódio :P

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  8. Eu também fico impressionado com teto de palha! Como que não passa água??!!

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  9. Eu já tive alguns carros na garagem e hoje tenho junto com o meu pai, 6 carros... 2 deles são 1972 e os outros 4 são novos...
    Acredite, os velhos precisam sim de manutenção constante... toda hora é uma coisa que não está perfeito... acho que a única coisa boa nos velhos, é que é mais dificil quebrar de verdade e parar... mas quase sempre está + ou - e precisa de um certo acertinho.

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  10. tem um a parte no texto que está escrito de "usar sanguessuga para curar `louruca`" tem q arrumar.
    alias, ótimo texto, eu já usei um mimeógrafo hehe, adorava sentir o cheiro de álcool que saia do aparelho e que também ficava nas folhas

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  11. Valeu, já arrumei.

    E quase todos aqui já sentiram o cheiro do álcool. Acho que é por isso que não me lembro de nada antes da 5ª série, foi nesse ano que aposentaram o mimeógrafo.

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