quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Hammond e o acidente de Felipe Massa

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Apenas seis dias depois de Henry Surtees morrer ao ser atingido na cabeça por uma roda em uma corrida da Fórmula 2, Felipe Massa sofre ferimentos terríveis na cabeça ao ser atingido por uma peça de suspensão após uma batida. Felipe parece estar a caminho de uma completa recuperação e de um retorno à F1. Henry, filho do bi-campeão mundial John Surtees, morreu no local do acidente.



Eu estaria mentindo se dissesse que não fiquei com o estômago um pouco embrulhado quando soube desses incidentes. Também estaria mentindo se dissesse que isso não me fez pensar a respeito de minha própria experiência com traumas na cabeça, embora meus pensamentos estivessem em Felipe e na família de Surtees muito mais do que em mim mesmo. Pelas fotos que foram tiradas depois do acidente de Felipe, com um olho arregalado olhando fixamente para fora de seu visor em pedaços, ficou claro que a peça de suspensão que causou os ferimentos bateu do lado direito de sua fronte.


Sofri danos cerebrais na parte frontal do cérebro em meu acidente em 2006, e pensar que alguém precisará encarar a longa jornada de recuperação que costuma suceder esse tipo de trauma é deprimente. A parte frontal de nosso cérebro é considerada responsável por nossas emoções, nossa personalidade. É onde vivemos, e quem somos. Qualquer dano nesta parte é potenciamente catastrófico e pode levar anos para ser superado. Eu sei que, para mim, o processo ainda está acontecendo. Ainda assim, é impossível imaginar o quão feliz os Surtees ficariam em ter a chance de ajudar Henry nesta mesma jornada.


Aparentemente parece que Felipe conseguiu escapar dos danos cerebrais; seu capacete em fibra de carbono amorteceu o impacto que poderia facilmente tê-lo matado. Mas toda vez que leio que ele espera voltar a competir na F1 após ferir a cabeça, admito que sinto arrepios. Não é a ideia de que ele corre risco de se ferir novamente - isso, sinceramente, é da conta dele. São apenas as lembranças de estar desesperado para, mais do que tudo, “voltar”, ir trabalhar, ser “normal” de novo. Se você já torceu um tornozelo enquanto corria na presença de outras pessoas, mas continuou correndo, fingindo que tudo estava OK mesmo que doesse demais, então você sabe que sensação é essa de que falo.


Parece que essa é uma necessidade especialmente poderosa para quem sofreu traumas na cabeça. Me lembro de estar tão desesperado para provar a meus médicos de que estava bem e que estava ‘funcionando’ corretamente que ficava citando fatos aleatórios que eu havia visto na TV do quarto durante o dia. Quando me perguntava que dia era ou onde estava, eu não fazia ideia. Mas ainda queria mostrar que estava bem. Talvez seja devido àquela revelação que acontece aos poucos, de que você feriu seu cérebro; que você danificou o exato lugar onde vive.


O que quer que seja, eu vi em ação quando visitava o The Children’s Trust, em Tadworth, para inaugurar a unidade de reabilitação utilizada por crianças com Trauma Cerebral Adquirido. É um lugar incrível, um lugar cheio de esperança até para aqueles jovens que sofreram danos profundos e começam suas próprias jornadas rumo a qualquer que seja o nível de recuperação que cada um será capaz de atingir.


Uma jovem, residente lá desde que sofreu seu trauma no início do ano, me abordou do lado de fora da unidade. Ela se apoiou em seu andador, pois ainda tinha problemas para se equilibrar - embora estivesse melhorando dia após dia - e me deu uma olhada bem analítica. Me perguntou se era verdade que eu tive problemas com as palavras por um tempo depois do acidente. Eu disse a ela que sim, eu tive. Ela perguntou se eu melhorei, e eu disse que sim. E então ela suspirou de alívio. Tudo o que ela queria ouvir era que sim, é possível melhorar, erguer-se para fora da confusão e do medo, e ser a pessoa que você era antes e sente que ainda deveria ser.


E trata-se de um tipo de trauma que sempre irá assombrar o automobilismo. Desde o trauma de Sir Stirling Moss em uma batida em Goodwood, em 1962, e que acabou com sua gloriosa carreira nas corridas, até os casos de Felipe Massa e Henry Surtees, em julho, até os milhares de traumas sofridos nas estradas por motociclistas e motoristas, parece que temos um padrão de vulnerabilidade aqui.


E, mesmo correndo o risco de ser chato e moralista, desculpe-me mas preciso reafirmar que isso só pode servir de aviso para cada um de nós que pilota motocicletas, carros de corrida ou até mesmo bicicletas. Um capacete é mais do que uma exigência legal - é uma necessidade e salva vidas. Para alguns, como Henry Surtees, mesmo um capacete não pode evitar o pior, e meus sentimentos vão para a família. Para outros, como Felipe Massa, um bom capacete é a diferença entre seguir em frente enquanto se tenta fingir que está tudo OK, e não ter a chance de nem mesmo tentar.


Fonte: Top Gear (01/10/2009)
Tradução: Dalmo Hernandes (Jalopnik Brasil)
Revisão e postagem:
John Flaherty


Toda Quarta-Feira, traremos artigos escritos por Richard “Hamster” Hammond, falando sobre vários tópicos, quase todos sobre carros. Fiquem ligados.

3 comentários:

  1. Cara, que bom, mas um integrante ao time de tradutores do TGBR! =D

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  2. "Um capacete é mais do que uma exigência legal – é uma necessidade e salva vidas.".
    Fica a dica pra quem anda de moto, principalmente pra aqueles que vivem em cidades pequenas, litorâneas...É muito comum ver matérias na Tv sobre o norte e nordeste e se deparar com pessoas andando de moto sem capacete também...

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  3. em espanha a pouco tempo nao era obrigatorio usar capacete, nao sei se ja e proibido andar sem

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