segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Me chamem de estraga-prazeres, mas estou feliz por meu pai não ter sido uma lésbica

young-jeremy-clarkson

Quando se trata de generalizações, eu sou o maioral. Todos os alemães não têm senso de humor, todos os manuais de instrução são inúteis, todos os navios transatlânticos são medonhos, todos os americanos são gordos, todos os golfistas são maçantes e todos os Peugeot são guiados por pessoas com as quais você não quer jantar.


Claro que estou muito ciente de que a maioria das generalizações não fazem sentido. Conheço muitos alemães engraçados, e "Obama Barrack" até que é bem magrinho. Mas sem generalizações, anedotas levariam dois anos, intentos não seriam logrados, a comédia sofreria e todos soariam como James May: "Na verdade, 42.7% dos manuais de instrução são bem úteis; mas primeiro, deixe-me quantificar 'útil'..."



A vida seria terrivelmente melancólica se todo fato tivesse de ser preciso, mas, dito isso, generalizações não têm lugar em pesquisas científicas sérias, e por isso fiquei um tanto alarmado ao ler, semana passada, que um conselheiro governamental da National Academy for Parenting Practitioners disse que lésbicas são melhores pais do que os "casais normais", algo que não podemos dizer mais.


Não tenho certeza se isto está correto porque, até onde consigo me lembrar, uma mulher não pode ter um filho após ter relações sexuais com outra mulher. A não ser que aquela mulher seja de uma equipe de atletismo.


Para um casal de lésbicas ter tido uma criança, ou uma seringa de umedecer peru tinha que estar envolvida - e muita gente não quer imaginar que veio ao mundo dessa maneira - ou deve ter visitado a British Association for Adoption & Fostering financiada pelo governo, que pensa que quem se opõe aos pais de mesmo sexo é um "homofóbico retardado".


Felizmente, sou um pouco mais sensato que isto. Não acho que alguém que se opõe à pais homossexuais seja um homofóbico retardado. Acredito que eles têm uma opinião. Mas, dito isso, eu enfaticamente não concordo que lésbicas necessariamente sejam melhores pais do que eu. É impossível dizer que alguém educará os filhos melhor porque ela gosta de outras mulheres. Existirão algumas lésbicas que ficarão fora a noite inteira e usarão drogas, e existirão algumas que lerão uma história de ninar para uma criança e serão mães excelentes.


Eu dei uma pesquisada, e a única evidência que consigo encontrar vem de uma pesquisa sancionada pela própria National Academy. O estudo examinou crianças criadas por apenas 27 mães solteiras, 20 casais lésbicos e 36, hummm, pais com genitais diferentes e concluiu que as crianças criadas por mulheres cresceram com uma melhor saúde psicológica.


Não é possível tirar qualquer conclusão com 20 lésbicas. Veja 20 italianos e você poderia acabar concluindo que a nação inteira estaria cheia de bobos calmos e incorruptíveis que não se interessam por sexo. Cheque a temperatura de um período de apenas 20 anos e você acabaria concluindo que o clima mundial estaria mudando.


Eu gosto de lésbicas, principalmente as que usam meia-calça e que se encontram na internet. Certamente, eu acho que mais mulheres deveriam experimentar o lesbianismo. Seria ótimo. Mas pessoalmente, e por favor não me chame de homofóbico retardado, não tenho certeza se eu ficaria muito feliz se minha mãe fosse lésbica.


Eu gosto de imaginar que a Angelina Jolie e a Charlize Theron às vezes se divertem debaixo das cobertas, mas minha mãe e Peggy, do clube de tênis? Não. E a noção de que a Peggy do clube de tênis poderia ser um pai melhor do que meu próprio pai é risível. Quase tão risível, na verdade, quanto a notícia alarmante que o país tem uma academia especializada em cuidados paternais e maternais.


Todos nós achamos que a maneira como criamos nossos filhos é correta e a maneira como os outros criam seus filhos é completamente errada. Eles são muito rigorosos. Muito frouxos. Muito fechados. Muito heterossexuais. Ninguém é tão bom quanto você.


E esse é o problema. Criar uma criança é algo pessoal, e não há espaço no debate entre natureza e criação para um bando de malucos com cabelo frisado correndo por aí, fazendo declarações políticas à nossas custas sobre lésbicas. Se o governo está querendo cortar gastos, ele deveria pensar bastante em desmantelar uma organização que dizem às pessoas o que dizer aos pais.


Há muitas coisas que preciso saber e não sei. Como entrar em contato com alguém no Facebook. Como chegar até Bournemouth quando a via principal está fechada para remoção de minhocas. Se o governo desse conselhos para essas coisas, isso seria maravilhoso. Mas ele me diz a que horas minha filha tem que ir para cama e o que ela deve comer no café-da-manhã. E como ela cresceria para ser um ser humano mais equilibrado se minha esposa convidasse uma amiga para passar a noite e vestisse algo transparente.


Sim, existem mulheres gordas no norte do país que precisam ouvir que seus filhos não podem faltar à escola e experimentar metanfetamina até que tenham 8 anos, pelo menos. Mas nós já temos uma organização que lida com este tipo de coisa: ela se chama polícia.


E se a polícia não pode ajudar, nós temos outra. Ela se chama assistência social. Assistentes sociais chegariam, notariam que a criança se entupiu de heroína e está toda coberta com vômito, e a colocariam numa instituição. Não é preciso uma academia nacional para dizer em qual tipo de instituição a criança deve estar porque isso é muito óbvio para alguém com metade de um cérebro.


Este é o problema com o qual lidamos aqui. Não gosto da idéia de que lésbicas, mesmo as maiores e esquisitas e que vestem macacões de jeans, não possam adotar um bebê. Elas cresceram com uma predileção por membros do mesmo grupo genital, mas isso não as impedem de serem ótimas mães.


Banir uma lésbica de ser uma mãe seria tão cruel quanto banir alguém porque gosta de golfe, algo que eu faria se eu estivesse no poder. Ou porque tem cabelo ruivo. No entanto, eu acho que devemos pensar nas crianças. Ter duas mães, quer você goste ou não, irá causar um certo estranhamento no playground. Mas este é apenas meu ponto de vista e sou apenas um pai. O que sei sobre isso?


Fonte: The Sunday Times (22/11/2009)
Tradução: John Flaherty


Toda Segunda-Feira, traremos artigos escritos por Jeremy Clarkson, falando sobre vários tópicos, quase todos sobre carros. Fiquem ligados.

15 comentários:

  1. Texto muito bom. Mas como posso dizer de maneira sutil que acho que ele está no lugar errado?
    Sinceramente não vejo nada que faça ligação com o Top Gear que estamos acostumados. Apenas uma critica construtiva rapazes!

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  2. Apenas uma coisinha pra mostrar que o Jezza fala sobre outras coisas além de carros.

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  3. Nossa o Jeremy escorregou na batainha e viajou na maionese agora hein..

    Más ele esta certo deu sua opnião de modo abrangente, politico e Rude? não é só o jeito dele mesmo

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  4. Pois é, eu sei que ele é colunista no The Sun, "Clarkson on Saturday". Porém acompanho mais o que está disponível no site do Top Gear, agora mesmo estava lendo "Jeremy Clarkson on: saving the planet" e achei o texto muito bom, apesar de não concordar com tudo o que ele diz sabemos que grande parte não passa de brincadeira e idiotice. Os do The Sun são bons também, a ideia de traduzi-lo foi boa, mas não acho que quem entra no blog procura esse tipo de texto. Até porque não há nenhuma "bomba" neles.

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  5. Tava procurando algumas colunas dele no The Sun, e não achei nenhuma relacionada a carros, parece que a maior parte destas devem estar no próprio site do Top Gear.

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  6. Achei legal a iniciativa de colocar o texto, ajuda bastante a você entender até como pensa o própio Jeremy. Pois afinal se o formato novo existe devemos tudo a ele.

    Quanto ao assunto abordado no texto, se para uma parcela interpretar texto ja é dificil quanto mais entender ironia. no mais concordo com os pensamentos do Jeremy.

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  7. Muito bom, obriagdo John... Qualquer coisa que o Jeremy postar eu vou ler, mesmo que nao seja relacionado a carros

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  8. Concordo plenamente, acho que por ser tão rude e irônico é que ele é engraçado!

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  9. estou de acordo com o gustavo, qualquer coisa do Jezza eu tmb vou ler, muito bom o texto, eu poderia pega-lo para trabalhar com meus alunos na aula de filosofia e sociologia?

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  10. E se puder, faça uma propaganda a nosso favor, tudo bem? :D

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  11. Bom se for por um motivo nobre como esse, influenciar as crianças desde cedo com o que é bom, concordo plenamente com a tradução! hahaha!

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  12. Muito bom o texto! Obrigado por traduzi-lo John!
    Só mais uma demonstração de que jornalista/apresentador tem que ter opinião própria e bem fundamentada!
    Isso só mostra o quão insípida é a imprensa brasileira, tão infestada de Homers Simpsons.
    Textos inteligentes como estes não importa o autor, tem que ser lidos e divulgados!

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  13. É difícil não concordar com o Jezza, o bom censo dele é incrivel. Vlw pela tradução

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  14. Puxa, que texto incrível. E sem inibições, eu diria.
    Eu sou a favor das pessoas serem felizes, seja com opção que for.
    Nem sou tão contra adotar uma criança, mas fico pensando na cabecinha dela enquanto cresce. Imgina o RG como fica, nos campos referentes aos nomes do pai e da mãe...ou para preencher qualquer ficha...ou na escola....sei lá, acho esse assunto tão delicado que ainda não consegui decidir direito minha opinião.

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