terça-feira, 20 de setembro de 2011

James May: carros deveriam ter apenas uma finalidade

Eu sei que isto soará meio como algo dos anos 1950, mas estou começando a achar que as coisas deveriam fazer, bem, apenas uma coisa.

Um relógio, por exemplo. Em algum lugar, eu tenho um daqueles Tissot Touch da moda, o que inclui dois alarmes, dois cronógrafos, uma bússola, um altímetro, um termômetro, uma espécie de prognosticador do clima (eu acho), um altímetro - já mencionei este? - um segundo fuso horário e uma luz, o que contava como uma função em qualquer relógio digital durante minha juventude.

É uma coisinha fascinante, na verdade, mas como não o uso muito, eu sofro para lembrar como mexer em todas estas coisas. E o que é pior, Hammond tem um também, e ele se esqueceu completamente. Então, eu tenho que gastar horas ajustando-o para ele.

Após lidar com isto, é um alívio usar o velho Omega, que apenas me diz a hora e nada mais. Ele nem mesmo mostra a data.

O iPhone é outro. É uma coisa incrível, mas quando ele quebrou outro dia, tive que colocar o cartão SIM no meu fiel Nokia de 8 anos de uso. Não podia tirar fotos ou jogar Batalha Naval, mas eu também não pude deixar de notar que funcionava melhor como um telefone para falar com pessoas.

Vez ou outra, o iPhone vai com a minha cara e simplesmente despeja todo o conteúdo de seu lado iPod para o espaço. Isto é irritante quando você o leva para as férias. Então, eu fui até a loja John Lewis e comprei um iPod clássico, aquele com o controle rotatório na frente. Quer saber? É melhor para ouvir música, tem muito mais espaço, e é totalmente confiável. Se quiser música no seu telefone, ligue para qualquer banco ou seguradora e ouça um pouco de Vivaldi.

Você não quer que eu continue, mas vou continuar mesmo assim. Enquanto estava na Jean Louis, decidi comprar um novo rádio-alarme/CD/mp3-player/relógio/cronômetro para a cozinha, para que eu pudesse ouvir meu novo iPod enquanto preparasse um prato.

Mas o que trouxe para casa foi algo chamado Arcma rCube (sic), que é uma espécie de cubo, e você coloca o iPod no topo e ele toca as músicas e nada mais. Ele soou muito melhor do que qualquer outra coisa na loja, e como só queria ouvir o iPod, foi esse que eu comprei.

Há duas maneiras de se interpretar isto. Se eu não levar o relógio Tissot numa expedição, eu também terei que levar instrumentos de aeronave, um cronômetro, uma estação meteorológica, um relógio de dar corda com alarme e um ímã. Então, a multi-funcionalidade torna a vida mais fácil e sua bagagem muito mais leve.

Mas por outro lado, as coisas com uma única função - o relógio, o rCube, minha jaqueta não-reversível, meu canivete com lâmina única que ganhei no Natal - são posses muito melhores e as que cuido melhor. Singularidade de propósito parece gerar desejabilidade.

Agora eu percebi que isso vale para carros. Os carros históricos que veneramos são os que têm uma missão óbvia e desanuviada. É óbvio para que servia a Ferrari 250 GT California e, como resultado, ela é linda. O mesmo vale para o Citroen DS, ou mesmo o primeiro Mini. O Triumph TR6 era um simples roadster de dois lugares e nada mais, e por isso que ele era bom. Os caras da Rolls-Royce estavam devotados à causa do estilo de vida hedonista quando projetaram e montaram meu Corniche, e por isso que ele é excelente para isso e horrível para transportar móveis.

Você vai querer dizer que, antigamente, o "veículo crossover" ainda não tinha sido inventado. Se quisesse performance excelente e você fosse um encanador, você teria que comprar uma Maserati e uma van. Eram tempos difíceis.

Então veio a Range Rover, e acho que ela pode ser classificada como um crossover, porque ela combinava dois atributos que antes eram considerados incompatíveis - luxo e tração integral. O Range da primeira geração pode ser considerado um clássico, eu acho. Mas não consigo ver um futuro para eles.

Alguém pode mencionar um carro que combina duas funções e que seja genuinamente muito desejável? Não consigo pensar em nenhum. Eu leio sobre picapes esportivas e minivans luxuosas e sei-lá-o-quê urbano, e não quero nada disso.

Ainda há, apesar de tudo, espaço para carros que cabem numa única categoria: a 458, o Rolls-Royce Ghost, a Land Cruiser. E não são apenas carros pomposos, porque isso também vale para o Suzuki Splash.

Uma mente segura é algo admirável. Eu posso tocar piano e consertar motos, mas sou meio ruim em ambos.

Fonte: Top Gear
Tradução: John Flaherty

Toda Terça-Feira, traremos artigos escritos por James May, falando sobre vários tópicos, quase todos sobre carros. Fiquem ligados.

7 comentários:

  1. James tem razão: As coisas específicas são mais praticas e causam "desejabilidade", não é a toa que embora temos horas atualizadas no celular, insistimos em usar relógio de pulso...

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  2. Concordo com o nosso querido James... Mas ele, ao meu ver, poderia tem incluido o Porsche Cayenne Turbo como um dos carros "multiuso" digamos assim. Pois o cayenne tem desempenho proximo do 911 Turbo, espaço maior e melhor aproveitavel que o Panamera e preço do porshce Carrera. Alem do desempenho, espaço e preço é um dos porsche mais lindos até hoje produzido. Na minha opinião é claro.
    Abraço a equipe TGBR.

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  3. Mas pelo que entendi ele estava criticando essa questão "multiuso"... ou não?

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  4. PERFEITO!
    Se eu quero um celular, não PRECISO de um Iphone.
    Se eu quero um esportivo puro-sangue, por quê compraria um Cayenne Turbo S ao invés de um Cayman S??
    O ÚNICO crossover que eu vejo alguma utilidade, por incrível que pareça, e nunca achei que fosse dizer isso, é o Doblò. Por ser extremamente espaçoso, andar bem com o 1.8 16v, dá pra levar qualquer tralha e é bastante confortável. E com tudo isso, não é exemplar em NENHUM desses quesitos...

    Uma curiosidade pra gente ver o quanto a cultura automobilística é deferente no primeiro mundo, o Land Cruiser atual, pra mim, é concorrente paralelo do Range Rover. O May acha o Range um crossover e um Cruiser um específico...

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  5. Só o Hammond gosta do Cayenne, o Clarkson não pode ver um a milhas de distância que começa a xingar! uahuahauhauhauahua

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  6. Concordo com cada palavra, apesar de ser fã também de tecnologia e de como podemos ter hoje em dia uma incrível peça de engenharia dentro de nossos bolsos. O que vale realmente é que se você for fazer uso de tudo o que um relógio com 1000 funções oferece, ele vale a pena. Do contrario, use o mais simples possível, não gaste seu dinheiro com isso. Em tempo, a foto no inicio é de uma casa inteira montada de lego, assisti há pouco tempo ele apresentando um programa no NatGeo sobre ela. Vale a pena dar uma pesquisada!

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  7. O Hammond gosta de TUDO que vem da Porsche hehe

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