segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Jeremy falando grego

Outro dia, eu passei por um radar de velocidade e, como toda pessoa que obedece a Lei, diminuí a velocidade para garantir que não fosse ativado. Mas ele foi ativado. E o mesmo aconteceu alguns quilômetros depois. O velocímetro dizia que estava a 80 km/h. O limite era de 80 km/h. Mas ele foi ativado também.

Levei vários quilômetros e muita reflexão para entender o que houve. E eis o que houve: enquanto a meia-idade termina e o Anjo da Morte começa a afiar sua foice, esperando por minha chegada iminente, minha visão não é mais o que era, e eu simplesmente não li o velocímetro direito. Eu, na verdade, estava a 96 km/h.

Melhor eu deixar claro que ainda consigo ler uma placa de trânsito na Lua. Consigo enxergar tudo que estiver longe, mas de perto, parece que estou debaixo d'água. Toda ligação que faço vai para a pessoa errada. Eu indico pratos nos cardápios e recebo algo completamente diferente. E quando tenho que dizer o número do meu roteador sem-fio para um homem na Índia, ele resolve o problema de alguém que está em Vancouver. Estava conversando com Esther Rantzen outro dia e eu a achei bem atraente.

É claro, agora eu uso óculos para ler, e tudo bem com isso. Mas não consigo usá-los quando estou dirigindo porque, apesar do navegador e dos mostradores ficarem bem nítidos, a visão além do pára-brisas fica toda borrada. Caminhões viram carros. Carros viram motos. Motos desaparecem completamente.

Tentei um par de bifocais outro dia, mas eles me faziam sentir dor de cabeça e me faziam rolar escada abaixo. Usar bifocais é como estar bêbado constantemente e quase sempre com medo. Certamente, eu não gostaria de ser atacado por um urso polar enquanto estivesse usando-os porque ele estaria muito, muito distante e então, quando você estiver mais calmo, estaria enorme e bem ao seu lado.

Deus sabe quantas pessoas dirigem usando óculos com duas lentes na mesma armação. Tráfego se aproximando está num outro condado num minuto e no outro, ele está no seu porta-luvas e tem um monte de sangue, seguido de um policial cujo capacete está a 8 quilômetros mas seus sapatos têm o tamanho de dedais.

Enfim, por causa disto, fui pego por dois radares e imagino o que aconteceria se isso fosse levado ao tribunal. Será que cegueira seria um argumento de defesa? Eles me deixariam ir? Pode apostar as duas nádegas que a resposta é um retumbante "não". Eles me multariam em um milhão de libras e me fariam quebrar pedras por mil anos.

No entanto, há uma solução. Basta virar um grego.

Leitores mais antigos devem lembrar que normalmente encrenco com os gregos porque uma vez, há muitos anos, enquanto estava na horrenda ilha de Creta, fui preso porque um homem moreno enfiou sua horrível mão peluda debaixo da saia da minha namorada, e quando eu disse "olha aqui, amigo", ele me deu um soco na cabeça. E então, quando o policial gordo e estúpido que me prendeu quebrou a chave na ignição de sua viatura, fui forçado a sair e empurrar o carro.

A história até que terminou bem. Quando cheguei ao topo de uma colina, eu dei um belo empurrão nesse patético e pequeno Fiat e fugi. Também consegui tirar as algemas dois dias antes que tivesse que lidar com o problema de passar minhas mãos algemadas pela máquina de raio-X do aeroporto.

Mas não é apenas algo pessoal. Devemos lembrar que o exército grego têm pompons nos seus sapatos, e a comida é terrível. Qual outro país cultiva parreiras, joga as uvas fora, come as folhas e faz vinho com creosoto? Além disso, a sodomia é assustadoramente popular.

No entanto, apesar de muitas dúvidas sobre o lugar, curti minhas férias de verão este ano na ilha grega de Córcira. Gostei bastante. Mas o melhor foi o enorme prazer de dirigir em um país onde ninguém liga se você é cego, maluco ou um cavalo.

Quando aluguei algo que parecia ser um Audi 0.4-litro, o homem da locadora, que se chamava Stavros - não é verdade - disse que precisava me explicar como ele funcionava. Ele abriu a porta, sentou-se no banco do motorista e eis as palavras exatas que ele disse: "Este é o volante, e a chave vai aqui". Só isso.

E acho que deve ser um conselho passado para motoristas em treinamento também, já que todos dirigem pelo lado da via que quiserem, a qualquer velocidade necessária em qualquer tipo de veículo que estivesse mais próximo de suas casas. Você vê pessoas em bugues, pessoas em Peugeots, pessoas em quadriciclos, pessoas sem capacete ou mesmo camiseta em motos rápidas. É um vale-tudo.

Leis sobre beber e dirigir? Sei que eles devem ter algumas. Eles têm que ter. A Grécia faz parte da União Europeia. Mas acho que elas são aplicadas da mesma maneira que a polícia britânica aplica a regra que permite mulheres grávidas urinarem em taxistas. Na Grécia, parece que o governo disse: "Aqui está uma estrada. Agora usem-na. E se acabarem mutilados, não venham chorando até nós."

Claro que existe uma desvantagem nisso tudo. Em 2006, que é último ano que possui registros, 3.335 pessoas morreram nas estradas da Grã-Bretanha. Na Grécia, que possui uma população de sete pessoas, morreram 84 milhões. Lá, só há duas maneira de morrer. Ser morto num acidente de carro. Ou ser morto num acidente de moto.

Mas há algumas vantagens nisso tudo. Você não morrerá de uma doença óssea ou porque uma estaca foi enfiada na sua cabeça por um pirado. Nem pisará em um ouriço-do-mar e morrerá porque, claro, você terá sido morto no caminho até a praia.

Fica melhor. A vida é muito mais relaxante quando não precisa se preocupar por metade dela se preocupando com quanto vinho você tomou no almoço e se você leu o velocímetro corretamente e se está usando seu cinto de segurança. O celular toca. Você o atende. Sem problemas.

Obviamente, é apenas correto e justo que um ladrão deva passar sua vida olhando por sobre seu ombro. Ele é um ladrão e tem que lembrar de não deixar pistas para a polícia. Mas alguém que está dirigindo um carro, após um belo almoço, não é um criminoso. É apenas um cara legal passeando com amigos num dia ensolarado. A polícia grega provavelmente irá pará-lo para ver se ele viu algum ladrão ou vagabundo na região - criminosos de verdade que eles podem cair matando em cima.

Conversei com um cara lá sobre a proibição ao fumo instaurada recentemente. "Sim", ele disse, com uma voz parecida com a de Chaim Topol. "Agora ele está proibido em locais públicos, mas não dará certo. Todos continuarão do mesmo jeito." Claro que irão, e nada será feito porque fumar um cigarro num bar, numa bela noite com a família, nem chega perto do que se considera um crime.

Claro que existe outra desvantagem que devo mencionar a esta altura. Como a polícia só se preocupa com estupradores e pessoas que agridem velhinhas na cabeça com tijolos, os magistrados não podem ficar nos tribunais o dia todo tirando o dinheiro de pessoas comuns que não fizeram nada de errado. E como resultado, a Grécia agora está falida.

Mas apesar da taxa de mortalidade e da falência, e dos tumultos resultantes, e dos pompons e da sodomia e do vinho retsina e das folhas de parreira, ainda temos muito a aprender com "Johnny Greek".

Fonte: Top Gear (04/11/2010)
Tradução: John Flaherty

Toda Segunda-Feira, traremos artigos escritos por Jeremy Clarkson, falando sobre vários tópicos, quase todos sobre carros. Fiquem ligados.

7 comentários:

  1. ahahaha este está muito engraçado.

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  2. Esse Clarkson tem cada uma kkk

    Mas hein, a data não tá errada, falta pouco mais de um mês pra novembro hehe.

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  3. verdade, o ano é 2010 e não 2011! Vou concertar.

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  4. Muito boa! Se querem uma dica, gostaria de ouvir a história de como ele foi preso na Grécia.

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  5. Caraca, quando ele não tem nada pra escrever, inventa umas paradas que não fazem sentido nenhum e, ainda assim, fica engraçado!!

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  6. kkkkkkkkk a história do aeroporto...e pelo o jeito ele amou a grécia

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