terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Dacia/Renault Sandero: louvando o carro anti-fashion

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"Querido, vou fazer compras. Quer algo em particular?"


"Acho que não. Não, espera um pouco. Já que vai lá, pode comprar um carro para mim?"


Se essa cena fosse real, e o carro fosse um item de consumo à mostra entre os vegetais e os produtos de beleza masculina, então o carro que traria para casa numa sacola de faz-de-conta, seria parecido com o Dacia Sandero.



O Sandero - que está à venda apenas na Europa continental, infelizmente - é a essência de um carro, livre de quaisquer indício sociológico que o tornaria um item da moda, um símbolo de status, uma indulgência, um item de grife ou um acessório de um estilo de vida. É um hatchback médio funcional e, como uma proposta para o fã de carros ele é um tanto, bem, trivial.


No entanto, gostaria de lembrar algo que disse uma vez sobre minha moto Honda de 99cc. A distância entre a Lamborghini Gallardo da qual acabei de sair e o Sandero 1.6 top-de-linha no qual acabei de entrar era claramente enorme, mas não tanto quanto a distância entre o Sandero e a plataforma sombria onde um homem espera pelo eco ressonante de um trem, um sinal de que somos escravos de um poder maior e, essencialmente, de nossa mortalidade. Ou um ponto de ônibus, ou a perspectiva de uma longa caminhada.


O Sandero é um carro básico para terras menos ricas, ou o que chamamos de economias emergentes. É feito na Romênia, como sabemos, mas também no Brasil (onde acabou de ser lançado), na Colômbia (de onde é exportado para outros países latino-americanos) e na África do Sul. A empresa controladora da Dacia é a Renault - a versão brasileira do carro é vendida como tal - e o novo hatchback tem como base o sedã Logan, que é uma espécie de carro mundial também vendido como um Nissan e, na Índia, como um Mahindra. E isto é apenas um indício do aparente incesto na árvore genealógica do produto global moderno.


Assim como o Logan, o Sandero (e a compra da Dacia pela Renault em 1998) pode ser visto como parte do experimento em andamento da empresa controladora para produzir um carro de preço verdadeiramente baixo mas cheio de equipamentos e aceitavelmente moderno. No seu trivial âmago, o Sandero é um Clio de terceira geração (e portanto também é um Nissan Micra, e por aí vai) mas dizem que um Sandero básico pode ter até 50% menos peças que o mais equipado dos Renault.


Medidas incluem retrovisores externos simétricos e portanto fixos, vidros simples ao invés de curvos, painel moldado numa única peça e um corte brutal de partes eletrônicas dispensáveis, buscando uma manutenção menos dispendiosa. Mas ele tem airbags e ABS está disponível.


Tudo isso dá ao Sandero um ar de geração antiga. O formato é inócuo mas bem ordinário, apesar de gente dizendo que seu perfil assume a forma de uma "onda de cabeça para baixo". O acabamento e o tecido no interior são um tanto precários, a alavanca de câmbio parece alta e de percurso longo, o volante é um tanto fino, a posição ao volante um pouco vertical demais, as janelas parecem um tanto frágeis.


Só dirigi a versão 1.6, que é o Sandero top-de-linha. Os clientes europeus também podem escolher uma versão 1.4 a gasolina e duas versões com um 1.5 a diesel, enquanto os brasileiros, usando etanol, podem optar pelo 1.0 e o 1.2. Se viram o episódio do Top gear onde finalmente me encontrei com o carro que não saía dos meus pensamentos nos últimos dois anos, verão que nosso tempo juntos foi impiedosamente curto e ele foi tirado de mim logo no começo do nosso novo relacionamento. Mas pelo menos, assim como foi com a Princesa Diana, sempre poderei lembrar-me dele em sua forma mais atraente.


O motor 1.6 é áspero e sempre disposto, enviando uma vibração agradável através do cóccix quando forçado. Como o Sandero tem que aguentar as estradas mais acidentadas de lugares como a rural Romênia, o curso da suspensão é generoso e com um belo molejo, dando a ele uma dirigibilidade inconfundivelmente francesa, ou em outras palavras, divertida. O Sandero é um ótimo carro com o qual inclinar-se da maneira errada numa curva fechada.


Eu gosto de um carro básico e a rapidez das respostas do Sandero é resultado da sua simplicidade, ainda mais porque, como resultado, ele é louvavelmente leve.


Adoro sua honestidade. O melhor Sandero não apenas custa tanto quanto um Ford Focus usado, é um carro perfeitamente bom quando analisado por qualquer método razoável. Não é apenas um grande avanço em relação ao ponto de ônibus, ele também é muito mais avançado que os outros Dacia que ainda sujam as estradas romenas, principalmente o Série 1310, baseado no Renault 12. Eles, como o Lada Riva, parecem uma ressaca comunista, um carro antes bom, agora considerado feio pela intervenção das forças de um suposto igualitarismo. O Sandero exala liberdade.


Esta sensação de liberdade parte de €6.890 (R$16.800) na Romênia, embora o mesmo carro 1.4 - com mais equipamentos - custe €7.800 (R$19.020) na França.


Há duas maneiras de ver isto. Uma é que é um carro barato para gente pobre, um exercício calculado de uma fabricante oportunista e não é muito bom para o resto de nós.


Mas ele não passa essa sensação. Ele parece revigorante, simples e agradavelmente anti-fashion, o que acaba tornando-o bem "cool".


Ele é, no fim das contas, apenas um carro. E ele está aqui para lembrar-nos o que isso realmente significa.


GOSTAMOS: simplicidade, preço baixo, nada de "superficialidades", surpreendentemente divertido de dirigir.


NÃO GOSTAMOS: confusão sobre a maneira correta de pronunciar Dacia. Pronuncia-se Day-chia, mas deve soar parecido com a maneira que os bolonheses pronunciam Ferrari.


Fonte: The Telegraph (01/12/2009)
Tradução: John Flaherty


Toda Terça-Feira, traremos artigos escritos por James May, falando sobre vários tópicos, quase todos sobre carros. Fiquem ligados.

13 comentários:

  1. Eu penso exatamente o mesmo do Renault Sandero no Brasil.

    Quase comprei um mas preferí justamente um Focus usado.

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  2. 19 mil na frança? 0Km...quanto custa um desses aqui no Brasil?

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  3. Lembrando que são preços de 2009.

    Mas não duvido que estejam próximos disso ainda hoje.

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  4. Comprei um usado ano passado, morei na europa dois anos, sei que o Sandero não é nada demais, mas comparado com os carros daqui do Brasil é um excelente custo benefício.

    Lembrando que os carros daqui são por demais atrasados em relação aos europeus, este apesar de seu um low cost mundial, está alinhado com o europeu.

    Bem, estou satisfeito e pretendo trocar por um outro no próximo ano (o meu é 2009, próximo ano espero pegar um 2011), comparando com o polo da vw, fico com o sandero mesmo, só não defini ainda pq estou numa fase apaixonada pelo focus hatch

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  5. Como dói saber que esse carro custa 17 mil reais lá e 40 mil aqui... Maldito Brasil, explorado pelo governo corrupto e pelas multinacionais que aplicam a maior margem de lucro do mundo...

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  6. Quem escreveu este texto?

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  7. tenho usado um de uma amiga, e apesar de ser 1.0 , ufff... é bom para nosso transito, apesar de ruas cheias de trafego e buracos!!! na estrada , Imigrantes ... melhor que minha Biz C100, ele tem capota!!!!

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  8. Dacia Sandero,Renault de segunda e pior o James May gosta dele,mas Richard Hammond e Jeremy Clarkson não e eu também.por que? é todo desporporcional(no modelo 2011 melhorou) e tem chassi de Logan,eca!(vale para o Duster).

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  9. Qual a temporada é o episódio que passa o Dacia/Renault Sandero sendo avaliado ?

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  10. um focus usado sai mais barato que qualquer sandero peladê e é muito mais carro sobre qualquer aspecto, fim de papo

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